segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reflexões Necessárias - Charles Lamb

Desde que nós humanos começamos a nos enlatar, procurar no artificial o sabor do natural contamina-se com as ilusões da vida enlatada, bitolada e fragmentada, restando por vezes ser meros espectadores da nossa própria destruição. Se não plena, gradativa.


Deparamos-nos hoje com o que poderia ser impensado por aqueles que em séculos passados realizaram os perigosos primeiros desvendes da ciência, a mesma que originou a bomba atômica, as armas químicas, os agrotóxicos, a fome. Mas, temos hoje o mais destruidor dos males modernos, o consumismo. Um desenfreado e competitivo consumismo, onde pessoas são meras mercadorias em prateleiras para que grandes empresários as comprem e as domestiquem, entupindo-as entre outros com dioxinas, agrotóxicos, ftalatos, alquilfenóis e palavras como, “que delicia”, “você nunca viu nada igual”, “chegou a sua vez de ter...”, perpetuando seus ganhos e ganâncias, saciando sua capacidade de ignorar a vida em sua plenitude, limitando-se ao seu único e restrito pensamento de MAIS e MAIS dinheiro. Não importando a quem tenha que enganar, subornar ou matar a mingua, mesmo que milhões de humanos famigerados e moribundos vaguem pelo grande planeta, e este, em processo acelerado de definhamento clama por ajuda.


"Eu não amaldiçoarei nunca mais a terra por causa do homem, porque os desígnios do homem são maus desde a sua infância”(Gen. 8, 21). Quem sabe o escrito bíblico nos dá uma pista, reorientando nossas condutas e valores, preservando nossa própria natureza, deixada de lado ou até mesmo desconhecida.
Assim, anda-se numa ida sem volta ao shopping da ilusão cotidiana, mascarada na infelicidade do viver pelo viver, faz com que se sinta alegria e desejo quando vem uma logo marca antes do sabor, ou por ter um último tipo de qualquer coisa. Chega-se ao ponto de achar que o leite vem da caixinha, que o caminho é acumular capital, e que o problema não é meu.
Que pena, contenta-se com tão pouco, esquecendo-se do telúrico e divino existir, tornado-se um ser humano incondicionado, refém de sua incapacidade de refletir seus gestos com a Terra Mãe, negando-se a partilha do bom viver. Sendo egoísta ao extremo no deixar um deserto para os próximos, deserto em toda forma de vida e não vida.


Ainda vivos e com tantos para criar seguimos rumos incertos, na utopia de que o amanhã será melhor, tendo mãos giradoras da grande manivela, acionando o questionamento e a multiplicação da resistência a este modelo que além de roubar nosso futuro, faz o presente ser esquecido.


Façamos-nos de novo, mas que seja para promover a vida, pela vida toda, sabemos que é possível coexistir entre os diferentes e iguais seres, talvez falte humildade ou até mesmo conhecimento da grande cilada que nos metemos ao decretar a negação da natureza, a qual fizemos parte.


Não somos estrangeiros neste planeta, somos seus moradores, tudo que precisamos para nos manter vivos vem dele de forma natural, não há artificialização, homogeneização, padronização, valoração monetária, há apenas a indispensável e contínua ciclagem de elementos, fazendo com que giramos quase que sem perceber no infinito universo que nos cerca.

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